Uma mulher corajosa demais dentro do próprio medo

abril 01, 2018

Minha ansiedade chegou ao limite. O mais engraçado disso é minha ingenuidade ao acreditar que poderia controlá-la, de que ela nunca mais iria aparecer para me assombrar. Pois cá estamos, com o coração batendo tão forte que não consigo dormir direito. Esse mesmo coração lembra que minha ansiedade não pede licença para nada, estou assistindo a um filme, mas minha cabeça não está ali. Ela está no som das batidas, tum tum tum e mais tum tum tum.

Cada dia tem sido um desafio para mim. Já acordo ansiosa, coisa que nunca tinha me ocorrido. Eu luto para não sucumbir aos meus medos e fracassos fazendo coisas que amo. Nunca eu me dediquei tanto aos meus projetos, porque são eles que me fazem esquecer a vida. Fazem com que eu não preste tanta atenção às batidas do meu coração.

A ansiedade me cega. Não consigo ver nada de bom na vida, nada de bom naquilo que faço. Só existe o objeto da minha ansiedade ali. Enquanto ela não baixar, eu não vou conseguir enxergar através da cortina de fumaça provocada por ela. Nessas andanças de ansiedade, a Internet se transforma em mais um lugar inseguro e que provoca crises. Nunca odiei tanto estar na Internet, porque atualmente ela tem sido um lembrete constante de ansiedade. É ansiedade que consome, consome, consome. Ironicamente, estou aqui, porque não consigo sair. Fora da Internet, também existe ansiedade. Dentro dela também. Que diferença faz?




Como eu disse, estou sobrevivendo a base das coisas que amo. Uma delas é escrever. A outra é editar meu canal sobre cinema no YouTube e gerenciar as redes sociais de um site sobre cultura pop e mulheres, o Delirium Nerd. Essa é uma época em que a Jessica de 12 anos iria adorar. Quando eu tinha essa idade, eu costumava escrever num jornal fictício, criado por mim mesma, o The Lafayette Times. Eu inventava as notícias mais estapafúrdias. A maioria delas era sobre o Roberto Carlos, acho que deveria estar obcecada por ele na época. Ao rever essa parte do meu passado, encontrei uma notícia sobre eu mesma. Nela, Jessica Bandeira lançava seu livro e era um sucesso. Reencontrar o The Lafayette Times foi algo que mexeu demais comigo. Porque a síntese de tudo o que eu amava já estava ali, aos 12 anos. Eu me emociono pensando nisso, em como a escrita sempre foi a maneira que eu encontrei para sair da solidão e de como eu acreditava no poder dela. Aos 26 anos, não lancei nenhum livro mas minha escrita me levou mais longe do que eu imaginava. Eu colaboro para três sites sobre cultura pop diferentes. O The Lafayette Times é real. Quando eu fico tomada pela ansiedade, gosto de tentar relembrar essa história, de reencontrar essa garota sonhadora que fui. Porque os sonhos dela foram, em partes, realizados. A Jessica de 12 anos tornou-se uma mulher corajosa demais dentro do próprio medo. E de vez em quando preciso me dar os créditos.

Fotografar é algo que me deixa em paz também, e que até mudou minha relação com a cidade onde eu moro. Quem me conhece sabe como eu odeio o lugar onde moro. Eu quero ir embora desde sempre para São Paulo. Há quem acredite que já moro lá. Neste ano, uma situação jogou na minha cara a vontade de morar em São Paulo, que estava adormecida em mim. O Gigante acordou. Fiquei com raiva. Queria sair e não podia. Olhava as fotos de pessoas que moram em São Paulo com inveja. Sim, eu sei que existe o trânsito. Eu sei de tudo isso. Não me importa. São Paulo tem meu coração. E aí, les jeux sont faits: eu poderia ficar e odiar ou poderia ficar e tentar ver o que há de bom aqui. A fotografia me fez ver o lado bom da cidade onde eu envelheço há 26 anos. Baixei um aplicativo que dá um efeito de câmera analógica nas fotos que você tira. Meu Deus, nunca imaginei que esse negócio fosse abaixar minha ansiedade. Tenho várias fotos da cidade que comecei a tirar, e a minha visão começou a mudar. Poxa, não é que bonito mesmo? Toda vez que me sinto consumida pela ansiedade, eu abro o álbum de fotos desse aplicativo e começo a ver. Tudo parece mais simples, mais leve com aquelas fotos. Compartilho algumas abaixo:





No mais, eu estou cansada. Exausta. Se há uma música que poderia me definir, seria Je Suis Malade, cantada pela maravilhosa Dalida e com a letra de Serge Lama:



Como a um rochedo
Como a um pecado
Eu estou atrelada a você
Eu estou cansada
Eu estou exausta
De fingir que estou feliz quando eles estão aqui
(...)
Não sei mais para onde ir
Você está em todo lugar

Para mim, essa canção resume o que é estar ansioso, embora ela fale sobre uma pessoa. Porque a ansiedade nos cansa, ela nos derruba, ela está à espreita em todos os lugares, esperando para nos pegar. Eu repito: todos os dias são difíceis, e eu luto muito para não ser derrubada. Há de ser muita coragem para levantar e seguir a vida.

Só quero os dias melhores que me prometeram.


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1 comentários

  1. Ansiedade é realmente uma sensação horrível. Já passei por diversos episódios e infelizmente desconto tudo através de comidas que me fazem passar mal. É uma relação destrutiva horrorosa.

    Acho que toda vez que nos jogamos de cabeça nos nossos projetos pessoais, esse tipo de sensação aparece porque nunca temos nada garantido de que o retorno vai aparecer. Seja ele por dinheiro, reconhecimento, etc, mas acho que a gente precisa tentar antes de desistir, né? Vai dar certo! Alguma coisa boa se tira de toda experiência.

    Sua escrita é sensacional. Você realmente sabe dizer as coisas de forma simples, da forma que adoro!

    beijos <3

    http://pinkismycollor.wordpress.com

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