Criar, postar e deletar

julho 10, 2017




De 2005 pra cá eu devo ter tido mais de dez blogs. O processo é basicamente o seguinte: criar, postar e deletar. Eu não consigo aguentar ter um blog durante muito tempo, talvez porque eu já tenha perdido o tino para essa dinâmica. Só que não consigo parar de tentar me adaptar a essa dinâmica tão fascinante. E é aqui que o "O tronco que fala" se encaixa.

Por mais que eu colabore para dois sites feministas que eu ame demais, o Valkírias e o Cine Suffragette, e tenha criado uma plataforma sobre cinema clássico incrível, o Cine Espresso, sempre senti que faltava algo. Alguns textos que publiquei timidamente no Medium começaram a me mostrar que o espírito Blogspot ainda estava em mim, ou seja, o desejo de escrever relatos mais pessoais. Sinto falta de escrever sobre os causos do meu cotidiano, relendo alguns blogs de 2005, eu percebi que escrevia sobre absolutamente tudo. Nada passava despercebido aos meus olhos.



É claro que a gente muda muito de 2005 para cá, e a verdade é que me tornei mais fechada. O afastamento do Blogspot reflete exatamente esse fechamento na minha concha (bem canceriana mesmo, SIM SENHOR), mas nem tanto assim, afinal escrever é envolver-se emocionalmente. Apesar de eu não contar mais sobre a menina por quem sofri durante um ano inteiro e curei essa ressaca ouvindo muito Fleetwood Mac, o que eu escrevi sobre cultura em geral reflete momentos muito peculiares da minha trajetória pessoal. Consigo saber quase exatamente o que me tirava o sono só pelos assuntos publicados no Valks, no Cine Espresso e no Cine Suffragette.

Talvez seja tarde para ter um Blogspot, logo agora que as pessoas estão usando o Medium ou outras plataformas. Mas a verdade é que eu sou louco por você realmente adoro essa dinâmica. Blogs sempre foram extensões da minha casa, lugares onde eu poderia conversar durante horas com as paredes e expurgar os males que habitam minha cabeça. Eu não me sinto em casa assim em nenhum lugar. Em nenhum outro lugar. Então, como diria o poeta Roberto Carlos: "eu voltei, agora pra ficar, porque aqui, aqui é o meu lugar".

Tá, mas e o tronco? O que o tronco tem a ver?

O tronco que fala está precisamente no meu braço esquerdo agora. Trata-se de uma tatuagem que fiz recentemente, com uma história muito bonita (pelo menos eu acho) por trás dela. É uma homenagem a duas coisas que eu adoro nesta vida: a Senhora do Tronco e pensar que as coisas um dia vão se resolver.

Senhora do Tronco é uma personagem de uma série chamada Twin Peaks, criada por David Lynch. Como você deve imaginar, ela anda com um tronco embaixo do braço, por isso esse nome tão peculiar. Todos na cidade acreditam que ela é louca de pedra, pois ela afirma categoricamente que o tronco fala com ela. Uma de suas maiores falas:

O meu tronco não julga.

Tirem suas próprias conclusões, porque as minhas eu já tirei. Essa é uma personagem tão mística, que as pessoas acreditam ser louca porque não pararam dois minutos para entendê-la. O fato é que todo começo de episódio de Twin Peaks, a Senhora do Tronco aparece fazendo uma introdução ao episódio. Em uma dessas introduções, o assunto abordado é a tristeza. Ela se pergunta se algum dia a tristeza que lhe arranca o coração fora vai terminar. Ela mesma responde: "Sim, é claro, um dia a tristeza vai acabar". E é daí que veio o tronco no meu braço esquerdo.



Adoro a última frase desse monólogo, pois acredito na positividade dela. As coisas ficarão bem qualquer hora dessas. Enquanto não ficarem, nós vamos enchendo essa casinha chamada O tronco que fala com um monte de perguntas.

O tronco é sobre tudo e sobre nada.

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